Allende se matou


Exame realizado no cadáver de Salvador Allende confirmou que o ex-presidente do Chile se matou com um tiro na cabeça durante o golpe de Estado que o depôs em setembro de 1973.

O resultado da análise realizada nos dois últimos meses foi divulgado na manhã desta terça-feira pela filha de Allende, a senadora Isabel Allende, e pelo chefe do Serviço Médico Legal do Chile, Patrício Bustos.

"O presidente Allende, ante as circunstâncias extremas que viveu, resolveu tirar a vida antes de ser humilhado ou de viver outra situação extrema", declarou a filha, emocionada.

"Não sobram dúvidas nem especulações, e temos muita tranquilidade, pois o resultado confirma uma convicção que tínhamos e ratifica a dignidade dele", completou.

Desde a morte do ex-presidente chileno no dia 11 de setembro de 1973, quando o golpe liderado pelo general Augusto Pinochet derrubou o primeiro presidente socialista eleito democraticamente na América Latina, havia suspeitas e muitas teorias conspiratórias sobre os últimos momentos de Allende dentro do Palácio La Moneda, sede do governo no centro de Santiago.

A versão mais conhecida, que era defendida inclusive pela família, dava conta que Allende suicidou-se com um tiro na cabeça disparado por um fuzil AK-47 que ele havia ganhado de presente de Fidel Castro. Sua morte ocorreu logo após o ataque dos militares ao palácio e foi testemunhada por um médico particular.

Mas a Justiça do Chile, diante das dúvidas e informações que Allende foi baleado mais de uma vez e por armas de distintos calibres, decidiu investigar o caso.

"Não há nenhuma dúvida de que ele se matou. Há uma ferida só, mas foram dois tiros", disse à Folha Patrício Bustos. Ele explicou a provável causa da confusão: foi confirmado que Allende usou o AK-47, fuzil automática que, quando programado assim, dispara mais de um tiro.

Para se matar, concluiu o exame, Allende apoiou a arma "na própria mandíbula".

O corpo de Salvador Allende continua no Serviço Médico Legal, localizado a poucos metros do Cemitério Central da capital chilena, onde a família do ex-presidente tem um mausoléu. O corpo deve voltar para a sepultura nesta semana.

Esta foi a segunda exumação dos restos do político. Em 1990, quando o Chile restaurava a democracia após 17 anos de ditadura de Pinochet, o corpo passou por uma primeira análise ao ser levado de um cemitério de Viña del Mar, onde foi enterrado em 12 de setembro de 73, para a sepultura na capital.

Acompanhado por equipes de peritos da Inglaterra e França, o exame divulgado hoje põe fim a uma dúvida de quase 40 anos.

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