O pesadelo de Roseana

Roseana entrega carta de renúncia ao presidente da Assembleia, Arnaldo Melo
"...Eu pergunto a você/Onde vai se esconder/Da enorme euforia..."
(Apesar de Você, Chico Buarque)

Dizem que a renúncia de Roseana será a mácula-mor de sua biografia. Não há como ser. Muito antes de decidir sair pela porta dos fundos, a governadora já gravara, em linhas tortas de pequena rainha má e mau humorada de "sua fantasiosa capitania hereditária", a marca do fracasso político. Infelizmente para ela, e ainda mais para nós pobres mortais maranhenses.

O gesto deste 10 de dezembro de 2014 é o desfecho de uma tragédia coletiva, cujas vítimas são números da miséria e do esquecimento. E os algozes, os fidalgos e seus conspiradores palacianos, os vassalos aquinhoados e os 'inocentes úteis' da grande trama que começou a ser ramificada a meio século. 

A alegada recomendação médica é uma desculpa nada original. Todos sabem dos problemas de saúde que a governadora enfrenta há anos. Nunca, antes do flagelo popular deste histórico 2014, ela havia cogitado desta possibilidade. Para ela e o clã do 'onipotente' pai José Sarney, só poder, poder e poder... Riqueza, riqueza e riqueza.

Não fossem as marcas reais e indeléveis na alma e na vida de um povo, tratado como animal faminto a se contentar com o último grão da ração, não haveria como não ligar toda esta história de poder e injustiças, de desigualdades e omissões, de arrogância e prepotência, de trapalhadas e intrigas, de saques do patrimônio comum, a uma obra do realismo fantástico.

Agora a governadora renunciante deve viajar com a família e alguns agregados para tratar da saúde e descansar. E a terra arrasada que fique para trás. Que saída humilhante, sem brilho, sem altivez, sem decência cívica, sem aura democrática, sem nenhum respeito para com a gente das ruas e do campo - "esses parasitas incompreensíveis".

Quando o governador eleito Flávio Dino estiver sendo empossado com a faixa em diagonal no peito, nos primeiros minutos de um 2015 princípio de uma nova era, Roseana estará tapando os ouvidos, aonde quer que se encontre, para abafar o canto da libertação que o povo ecoará do litoral ao sertão, dos campos às florestas. Exatamente aqui, neste ponto, o Maranhão estará renunciando a Roseana e ao seu clã.
 

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